o mesmo Castelo de cartas
domingo, outubro 03, 2010
00:20
Era verão, uma escada cinza, apenas o sol te viu passar pela rua, camiseta branca de malharia, olhos castanhos cheios de dor. O amor então era palavra desconhecida, palavra dispersa, coisa de menina tola que viu Cinderela demais. Como era odioso para ela os contos sem personagens, mas ali naquela hora, tanto o sol quanto a escada foram apenas personagens, que em seus devidos lugares assistiram aquela cena.
quarta-feira, agosto 25, 2010
Nau
E a gente vai desfazendo de coisas, pouco a pouco, até que no fim restem pequeninos fios, frágeis, quase invisíveis. Aquilo que era tão certo na mente, agora é apenas um fio imaginário que se tenta evitar. Já não há objetos, presença, palavra, promessa, existe apenas aquele fio, estático, esperando o menor dos descuidos atentamente. O fio era a realidade desejada, a felicidade imaginada, que de tão esperado, todos pareciam saber que era frágil demais, e em cada ponto desse fio, estão dois pensamentos, agora dispostos a soltar o que tão firme um dia foi.
sábado, agosto 14, 2010
Luz.
Quando a rua se abre em luzes, só posso pensar que ela está cheia... de pensamentos, de carros, poucos espaços para tantas pessoas e seus mundos. Há uma moça com um casaco branco no meio do asfalto que esfria no começo da noite, tem viciados que não sabem o rumo do olhar, penso então onde estão seus pensamentos e onde eles vão quando o fogo surge, não sei.
Penso que a vida deveria ter mais respostas, não seria necessário se afogar em tantas indagações para no fim não saber todas as respostas. Seria talvez uma resposta para quem ignora, mas seu sonho ilustra e mostra o escondido, quase como um pesadelo, mas bom, o pesadelo então seria a vida, a felicidade ignorada, e agora ilusão.
Ninguém sabe o que fazer quando não se consegue esquecer, virou uma sina, e isso está encravado, escrito em luzes que não se apagam, não se vive sem ela, a claridade do dia apenas dá espaço para essas luzes que estão nas ruas ou em um lugar horizonte imaginado.
segunda-feira, junho 14, 2010
Caleidoscópio:
Segundo dicionário Silveira Bueno de 1989 (?), essa palavra significa aparelho que, por certa posição de espelho, produz inúmeras figuras. Em um marca páginas na janela, ele afirma que é algo que te faz ver além, outro mundo talvez.
Certos fatores ou até mesmo pequenos detalhes, como música, filme, poemas, pessoas, lugares... nos fazem sentir que estamos em outro mundo, naquela hora tudo é mais colorido e de tão bonito e cheio de sentidos, parece não ter explicação. Assim são certos sentimentos, sobre eles não se dialoga, apenas se sente.
O mundo ali fora, pode parecer um mero observador, estático e de tão parado sempre parece ser o mesmo e com a mesma paleta de cores. Mas, penso que se escolher bem cada pequeno detalhe dentro do nosso universo interior, até coisas que de tão sem explicação trazem o medo, elas, se transformariam em um verdadeiro caleidoscópio de sentimentos bons.
terça-feira, maio 25, 2010
A fila
Onze da manhã desta terça, saí com um amigo meu pra ir no sebo, ver um livro que segundo ele não é mais publicado, ele achou. Eis que passamos ao lado do Teatro da Caixa e vi uma fila que dobrava a esquina, e cada pessoa estava ali para comprar o ingresso do Tom Zé, pra sexta, sábado e domingo. Entrei também na tal fila, descobri que não passava cartão, deixei o amigo lá e fui tirar dinheiro, quatro quadras, descobri que só tinha desconto quem tinha o cartão da caixa, mais seis quadras, e dois telefonemas. Após duas horas na fila, encontrei um cachorro parecido com a Cecília, o Jimmy, preto com o peito branquinho igual ela e quando passei e vi ele, eu abri um sorriso e fiquei lá feliz, fazendo um cafuné. Ele teve que andar com a dona que seguia a fila e eu voltei pro meu lugar. Mais cinco minutos, e ouço uma voz falando que acabara os ingressos, daí eu pensei que era esperado mesmo, porque a Caixa só me dá dor de cabeça, é cartão clonado, é ingresso que tem que ter o cartão, é fila, é mil pessoas no banco, enfim o samba do criolo doido ao pé da letra. Tudo bem, perdi duas horas pensando nos ingressos, mas do lado de um amigo, do lado de gente conversando sobre tudo, de um violão cantando no fim da fila, e apesar de tudo fiquei feliz e pensei no Jimmi ali com seus olhos pretos, e apesar dele ter recebido meu cafuné mais carinhoso, na verdade foi ele que me fez dar um sorriso que eu precisava pra não ficar brava com um banco. Ando com saudades demais, quando caminho pelas ruas, em cada canto, cada detalhe, algo me traz lembranças e sonhos que guardo no lugar mais quentinho de meu coração e para isso não é preciso fila apenas um pouco de paciência, creio eu.
quarta-feira, abril 07, 2010
Desencontrários
Mandei a palavra rimar,
ela não me obedeceu.
Falou em mar, em céu, em rosa,
em grego, em silêncio, em prosa.
Parecia fora de si,
a sílaba silenciosa.
Mandei a frase sonhar,
e ela foi num labirinto.
Fazer poesia, eu sinto, apenas isso.
Dar ordens a um exército,
para conquistar um império extinto.
[Paulo Leminski]
ela não me obedeceu.
Falou em mar, em céu, em rosa,
em grego, em silêncio, em prosa.
Parecia fora de si,
a sílaba silenciosa.
Mandei a frase sonhar,
e ela foi num labirinto.
Fazer poesia, eu sinto, apenas isso.
Dar ordens a um exército,
para conquistar um império extinto.
[Paulo Leminski]
sexta-feira, março 05, 2010
Banquinho de pensamentos
Uma pausa. Olhar de outrora. Quer dizer que já não existe mais?
Música antiga. Papel amassado. Poema esquecido. Amor reprimido.
Cadeira. Árvore. Mãos. Cabelo comprido. Deveria ter feito mais?
Ruas novas. Livro relido. Vestido antigo. Outra pausa. Sorriso escondido.
Os dias passaram. A mão que apóia o rosto escondera meu sorriso.
Nada foi dito. Relógio fez círculos. Pensamento ficou.
Suellen Yoshihara
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